segunda-feira, 4 de abril de 2016

Eu, petista?

PETISTA?!

A tensão social pós-eleitoral expressa nos constantes manifestos patrocinados tanto pelos opositores quanto pelos apoiadores do governo da presidente Dilma alcança níveis surpreendentes de radicalização e intolerância. O aspecto mais grave dessa radicalização é incapacidade de raciocínio, da análise distanciada do fervor partidário, ou para ser mais preciso, anti-partidário. A máxima dos opositores, repetida, massificada e reforçada pela grande mídia é que o PT não é um partido. Trata-se na verdade de uma quadrilha e seus membros -  não temos como chegar a outra conclusão se seguirmos essa premissa - são todos bandidos. Seus defensores, mesmo que meros simpatizantes não filiados, ou são igualmente corruptos ou ignorantes, cegos, alheios à verdadeira intenção política do PT: locupletarem-se. Um dos pilares do projeto político do PT seria eternizar-se no poder, pois não teria um projeto de governo a desenvolver. Mas, qual partido deseja algo diferente disso? Nenhum! Mas, levando-se em conta que o PT é uma "quadrilha", isso não vem ao caso. Os mais alarmados falam em implantação de um regime comunista na concepção mais extremista do termo, com expropriação de bens e fim da propriedade privada, cerceamento e controle total da imprensa e prisão de líderes religiosos (sim, esse discurso é forte em alguns contextos religiosos, onde se propaga até que Dilma já teria assinado protocolo para implantação de um chip para controlar as pessoas).


Diante desse quadro, qualquer posicionamento que não seja alinhado com a expulsão do PT do cenário político é tido como prova cabal que você é um petista e, por decorrência, a favor da corrupção. E mesmo que você tenha severas críticas ao PT, se ousar defender a continuidade do mandato legítimo, mesmo que pífio como tem sido, da presidente Dilma, suas críticas são sumariamente desconsideradas ou tratadas como prova de incoerência.

Utilizando a linguagem híbrida das charges, tenho denunciado a ilegitimidade do pedido de impeachment. Ninguém discorda que o instrumento do impeachment é constitucional, mas sua aplicação precisa ser conduzida mediante as condições constantes na legislação. Diversos juristas têm repetido que essas condições não estão presentes no atual processo de impeachment da presidente Dilma. É por essa razão que se afirma que esse processo constitui-se em um golpe devido à ausência de um crime que o justifique.
Ser contra o impeachment, pelo menos com o que se tem apurado até agora na Operação Lava-jato, não significa aprovação plena dos governos petistas. Não se trata de um cheque em branco ingenuamente oferecido ao governo, um aval para todas as suas políticas e práticas. A dificuldade de separar a defesa da legitimidade e continuidade do mandato da presidente Dilma, filiada ao PT, da defesa do PT impressiona. Só a paixão cega ou o ódio insano justifica isso. A explicação mais plausível é que isso é fruto de uma doutrinação midiática, constante e intensa. Em um país cuja população não tem uma prática de leitura crítica e reflexiva, que se contenta em ler manchetes e se acostumou a adotar como verdade as enfáticas - embora parciais - denúncias dos telejornais essa estratégia funciona com extrema desenvoltura.
Não raramente, portanto, sou acusado de defender um partido corrupto e de ser parcial em minhas críticas. Como critico a própria imprensa, desmentindo suas acusações ao governo, logo sou tratado como um advogado de defesa do PT. Repito aqui o que disse em algumas respostas: no atual momento da Operação Lava-jato e do andamento do processo de impeachment não vejo acusação concreta contra Dilma e Lula. A estratégia da grande mídia repete o modus operandi do golpe político, civil, militar e midiático de 1964. Não sou, evidentemente, contrário à liberdade de imprensa, mas jornalismo não é exatamente o que os grandes veículos andam praticando nas suas redações.

Dito isto, exemplifico com charges já publicadas, algumas críticas ao PT:

Alianças

O PT se uniu a partidos já contumazes na prática de atos como corrupção e fisiologismo. Partidos sem uma definição clara de programa partidário, desassociados de uma pauta que atenda aos anseios da população, principalmente a mais excluída. Que promova o desenvolvimento, com inclusão social. O PMDB e o PP, por exemplo, são exemplos de partidos cujas práticas desaconselham qualquer aproximação e identificação. O fato é que o PT fez uma escolha para chegar ao poder e hoje colhe frutos dessa decisão.


Gestão

Após os avanços sociais do primeiro governo de Lula, muitos petistas sentiram-se traídos pelos rumos do governo. Em plena crise, que certamente tem relações com a conjuntura econômica global, os bancos continuam flutuando acima de tudo e todos, auferindo lucros crescentes. As nomeações de ministros, um exemplo a mais, mostram o descompasso entre a capacitação/qualificação do nomeado e as exigências do cargo. Lembram do Crivella, ministro da Pesca?

















Corrupção

O PT envolveu-se com a prática - comum à grande maioria dos partidos - de Caixa 2, que recebeu o apelido de "mensalão" na Ação 470, na qual o STF julgou e condenou petistas graúdos. As investigações da Lava-jato têm coletado denúncias e delações que envolvem o PT em práticas de pedidos de propina a empresas. Embora essas empresas tenham doado propina a vários partidos, incluindo os da oposição, isso demonstra que o partido não aprendeu a lição e resolveu se arriscar nessa odiosa prática. Embora o processo esteja em fase ainda não conclusiva, é muito difícil que vários delatores, incluindo empresários, lobistas e ex-servidores públicos estejam todos mentindo sobre a participação da cúpula do PT nesses esquemas. Isso não significa que todas as delações são plenamente verdadeiras, mas o que se tem apurado já é suficiente para sujar a história e o papel do PT na vida democrática nacional.










 



Dito isto, reafirmo aqui a minha postura no contexto das manifestações pró e contra o governo. Sou a favor da legitimidade do mandato de Dilma. Ela foi eleita com mais de 54 milhões de votos dos brasileiros e isso precisa ser respeitado. Salvo se houver um crime tipificado e praticado por ela, falar em impeachment ou em renúncia forçada e novas eleições é um golpe contra a democracia. Pesquisas de popularidade não são argumentos para se destituir um governante em pleno mandato. Do mesmo jeito que um presidente não pode ser reeleito por pesquisas de popularidade. A via natural e democrática para a recondução ou destituição de um governante eleito é o voto. Não está gostando da gestão de um governante? Espere a próxima eleição e vote em outro candidato. Se seu candidato for novamente derrotado por um que você não queria que fosse eleito, paciência... espere a próxima eleição e repita o processo. Qualquer coisa diferente disso é golpe contra a democracia. 


Por fim, não se trata de defender o PT, ou um governante, mas as regras do jogo democrático. Não subscrevo a frase, por mais que muitos a adotem, "Mexeu com Lula/Dilma, mexeu comigo". Não é por aí. Não se trata de fulanizar a defesa. Defendo a democracia, o direito, a legitimidade do governo eleito, que por acaso é exercido pela Dilma.   

Ivan Cabral

Nenhum comentário:

Compartilhar/Share