sexta-feira, 18 de abril de 2008

Tarcísio Motta: um artista, muitas faces.


Tarcísio Motta

.............................................................................................................

Bem antes do movimento que originou a criação do Grupehq, esse artista natalense já enveredava na arte dos quadrinhos, desenhos e pinturas!

A importância da colaboração de Tarcísio Motta é atestada pelos depoimentos abaixo.


Um artista nato.


Há que se diferenciar o artista bem dotado,

aquele artista genuíno, nato, vocacionado, do artista de laboratório, pesquisador, estilista, precisoso... O primeiro pela habilidade herdada, pela facilidade como se move o exercício da Arte que lhe é como e que nem sempre resulta numa postura séria diante da inclinação natural, dom da alma. O segundo nem precisa esclarecer: chega à Arte por árduos caminhos. Tarcísio Motta é um desses artistas natos. Dono de uma habilidade inconteste e de uma curiosidade quase científica, produz serigrafia, desenhos publicitários, inventa máquinas para seus experimentos, lê revistas especializadas em francês, inglês, espanhol, compara, estuda, descobre. O resultado de tudo isso é o abuso das encomendas publicitárias, o desgaste do talento do artista múltiplo, generoso e solícito. Com a experiência adquirida e a par de uma visão crítica rara num só pessoa (Tarcísio possui um irreverência cheia de sabedoria), é figura indispensável e obrigatória no equilíbrio humano e avaliador dos valores e das contradições das Artes no Rio Grande do Norte. Crítico mordaz, nem a si mesmo se perdoa, dotando sua Arte quase sempre do seu talento improvisador.


Dorian Gray, artista plástico.


Um experimentador

Conheci Tarcísio Motta em priscas eras como desenhista do então Instituto de Antropologia da UFRN. Gastrópodes, sáurios jurássicos e outros animais extintos, que faziam as delícias dos paleontólogos, tornavam-se vivos através dos seus traços, das suas aguadas. Nele misturavam-se o artista virtuoso e o naturalista minucioso. Com o tempo, os dois continuaram juntos, mas o artista tornou-se mais saliente. O desenhista e pintor de bichos brabos passava a retratar o bicho-homem. Os traços e pontilhados, as pinceladas seguras, revelavam a alma, a beleza e a feiura de gente daqui e de outras plagas. Conta-se até de feios que reclamaram por não saírem bonitos das suas mãos. Aliás, se o artista deve melhorar a natureza, vendo-a sempre bela, creio, ainda é motivo de polêmica entre filósofos e estetas. Como não sou nem uma coisa nem outra, prefiro continuar falando do meu talentoso amigo. Encapsulado na sua carapaça, T. Motta é um experimentador nato E muito do que faz com maestria, criando novas formas a partir de materiais plásticos os mais diferentes, só quase os amigos sabem. Sua arte, com justiça, toma o rumo das multidões, para que muitos tenham o prazer só usufruído por uns poucos privilegiados.


Nássaro Nasser, antropólogo


Demônio com alma de artista

De criatividade nata e poderosa, ele tem percorrido todos os gêneros possíveis e imagináveis do desenho, da pintura, dos trabalhos de ilustração par a obras científicas ou industriais, da publicidade em geral, do remanejamento da cerâmica entre nós, - trabalho este último do qual é um dos pioneiros. O que ele chama de seu artesanato, por exemplo, é aproveitamento de qualquer tipo de material com aplicação no seu desenho e pintura. É mestre consumado nesse gênero, vendendo tudo o que produz, sem alarde ou promoção de qualquer espécie.

Pessoalmente, Tarcísio Motta é inquieto, buliçoso, teimoso, não perdendo a oportunidade para um blague, um dito, um apelido, uma caricatura mental. Imita qualquer pessoa na voz, no gesto atitudes, lembrando gafes de homens famosos ou simples companheiros de trabalhos. Ninguém escapa à ironia brincalhadora de Tarcísio. É um demônio com alma de artista. Por outro lado, é extremoso pai de família, bom amigo. desinteressado e prestativo, sobretudo àquelas pessoas a quem se afeiçoa.

Mas não lhe faça uma só restrição... porque, inevitavelmente, passará ao seu repertório de anedotas, que é largo e fecundo...

A colaboração que deu ao Museu Câmara Cascudo, desde os primeiros tempos, é importante e demonstra sua criatividade e excelente desenho. Um dos seus painéis gigantesco lá está na sala de paleontologia. Suas obras estão espalhadas noutras instituições e entre colecionadores, desde retratos a aspectos paisagístlcos de Natal, destacando-se, também, como artista que sabe usar a cor sempre agradável ao lado do traço forte e certo.


Ultimamente, Tarcísio Motta está voltando para a nova técnica de trabalho: o aproveitamento do metal aliado à pintura. Suas experiências nesse campo têm tido a melhor receptividade. É uma fase de sua atividade artística das mais brilhantes.

Tarcísio Motta, entretanto, nunca se demora num único gênero de trabalho de Arte. Amanhã ,ele estará fazendo algo completamente diverso. Mas, na verdade, tudo que faz é bom, é Arte genuína e verdadeira, porque Tarcísio Motta nasceu artista - sentimento estético nesse jovem natalense e impulso espontâneo e vigoroso de sua personalidade. Não sabe fazer outra coisa. A expressão artística é o seu recado neste mundo. E sempre soube transmiti-lo com seu toque pessoal inconfundível.

Veríssimo de Melo, folclorista

Tarcísio Motta, faleceu no dia 12/04/2008, aos 67 anos, vítima de um AVC. A família celebra hoje (18/04) às 19h00, na Igreja São Camilo, a misssa de 7º dia.

Nenhum comentário:

Compartilhar/Share