A tensão social pós-eleitoral expressa nos constantes manifestos patrocinados tanto pelos opositores quanto pelos apoiadores do governo da presidente Dilma alcança níveis surpreendentes de radicalização e intolerância. O aspecto mais grave dessa radicalização é incapacidade de raciocínio, da análise distanciada do fervor partidário, ou para ser mais preciso, anti-partidário. A máxima dos opositores, repetida,
Diante desse quadro, qualquer posicionamento que não seja alinhado com a expulsão do PT do cenário político é tido como prova cabal que você é um petista e, por decorrência, a favor da corrupção. E mesmo que você tenha severas críticas ao PT, se ousar defender a continuidade do mandato legítimo, mesmo que pífio como tem sido, da presidente Dilma, suas críticas são sumariamente desconsideradas ou tratadas como prova de incoerência.
Ser contra o impeachment, pelo menos com o que se tem apurado até agora na Operação Lava-jato, não significa aprovação plena dos governos petistas. Não se trata de um cheque em branco ingenuamente oferecido ao governo, um aval para todas as suas políticas e práticas. A dificuldade de separar a defesa da legitimidade e continuidade do mandato da presidente Dilma, filiada ao PT, da defesa do PT impressiona. Só a paixão cega ou o ódio insano justifica isso. A explicação mais plausível é que isso é fruto de uma doutrinação midiática, constante e intensa. Em um país cuja população não tem uma prática de leitura crítica e reflexiva, que se contenta em ler manchetes e se acostumou a adotar como verdade as enfáticas - embora parciais - denúncias dos telejornais essa estratégia funciona com extrema desenvoltura.
Não raramente, portanto, sou acusado de defender um partido corrupto e de ser parcial em minhas críticas. Como critico a própria imprensa, desmentindo suas acusações ao governo, logo sou tratado como um advogado de defesa do PT. Repito aqui o que disse em algumas respostas: no atual momento da Operação Lava-jato e do andamento do processo de impeachment não vejo acusação concreta contra Dilma e Lula. A estratégia da grande mídia repete o modus operandi do golpe político, civil, militar e midiático de 1964. Não sou, evidentemente, contrário à liberdade de imprensa, mas jornalismo não é exatamente o que os grandes veículos andam praticando nas suas redações.
Dito isto, exemplifico com charges já publicadas, algumas críticas ao PT:
Alianças
O PT se uniu a partidos já contumazes na prática de atos como corrupção e fisiologismo. Partidos sem uma definição clara de programa partidário, desassociados de uma pauta que atenda aos anseios da população, principalmente a mais excluída. Que promova o desenvolvimento, com inclusão social. O PMDB e o PP, por exemplo, são exemplos de partidos cujas práticas desaconselham qualquer aproximação e identificação. O fato é que o PT fez uma escolha para chegar ao poder e hoje colhe frutos dessa decisão.
Gestão
Após os avanços sociais do primeiro governo de Lula, muitos petistas sentiram-se traídos pelos rumos do governo. Em plena crise, que certamente tem relações com a conjuntura econômica global, os bancos continuam flutuando acima de tudo e todos, auferindo lucros crescentes. As nomeações de ministros, um exemplo a mais, mostram o descompasso entre a capacitação/qualificação do nomeado e as exigências do cargo. Lembram do Crivella, ministro da Pesca?
Corrupção
O PT envolveu-se com a prática - comum à grande maioria dos partidos - de Caixa 2, que recebeu o apelido de "mensalão" na Ação 470, na qual o STF julgou e condenou petistas graúdos. As investigações da Lava-jato têm coletado denúncias e delações que envolvem o PT em práticas de pedidos de propina a empresas. Embora essas empresas tenham doado propina a vários partidos, incluindo os da oposição, isso demonstra que o partido não aprendeu a lição e resolveu se arriscar nessa odiosa prática. Embora o processo esteja em fase ainda não conclusiva, é muito difícil que vários delatores, incluindo empresários, lobistas e ex-servidores públicos estejam todos mentindo sobre a participação da cúpula do PT nesses esquemas. Isso não significa que todas as delações são plenamente verdadeiras, mas o que se tem apurado já é suficiente para sujar a história e o papel do PT na vida democrática nacional.
Dito isto, reafirmo aqui a minha postura no contexto das manifestações pró e contra o governo. Sou a favor da legitimidade do mandato de Dilma. Ela foi eleita com mais de 54 milhões de votos dos brasileiros e isso precisa ser respeitado. Salvo se houver um crime tipificado e praticado por ela, falar em impeachment ou em renúncia forçada e novas eleições é um golpe contra a democracia. Pesquisas de popularidade não são argumentos para se destituir um governante em pleno mandato. Do mesmo jeito que um presidente não pode ser reeleito por pesquisas de popularidade. A via natural e democrática para a recondução ou destituição de um governante eleito é o voto. Não está gostando da gestão de um governante? Espere a próxima eleição e vote em outro candidato. Se seu candidato for novamente derrotado por um que você não queria que fosse eleito, paciência... espere a próxima eleição e repita o processo. Qualquer coisa diferente disso é golpe contra a democracia.
Por fim, não se trata de defender o PT, ou um governante, mas as regras do jogo democrático. Não subscrevo a frase, por mais que muitos a adotem, "Mexeu com Lula/Dilma, mexeu comigo". Não é por aí. Não se trata de fulanizar a defesa. Defendo a democracia, o direito, a legitimidade do governo eleito, que por acaso é exercido pela Dilma.
Ivan Cabral
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